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1 de Abril de 2011 | Entrevistas | Direitos humanos | Justiça climática e energia
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Às vésperas de um histórico encontro de mulheres atingidas por barragens a ser realizada em Brasília, a energia como mercadoria atravessa a agenda global: de Belo Monte até Temacapulín, de Fukushima até Líbia. Rádio Mundo Real entrevistou a dirigente do MAB, que celebra seus 20 anos de luta.
Na segunda-feira que vem na capital do Brasil, o Encontro Nacional de Mulheres Atingidas por Barragens, uma iniciativa do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) desse país que comemora seus 20 anos de existência.
O objetivo do encontro, ao que comparecerão mulheres envolvidas em lutas contra os projetos de hidrelétricas da Patagônia e do México, além de autoridades oficiais tanto brasileiras como da região, é de relançar um relatório onde se constatam as violações aos direitos fundamentais das comunidades atingidas e dentre elas, especialmente os das mulheres.
Temacapulín presente
Sônia Mara Maranho, integrante da Coordenação Nacional do MAB conversou com Rádio Mundo Real, solidarizando-se com a comunidade mexicana de Temacapulín, que acompanhada por organizações vinculadas à Rede Latino-americana de Atingidas por Barragens estão realizando uma ocupação nas obras da barragem “el Zapotillo” que ameaça esta e outras comunidades no Estado de Jalisco.
“O 3º Encontro Internacional de Atingid@s por Barragens que realizamos em Temaca em outubro passado significou uma sementes, que tem sido cuidada por toda a comunidade e essa semente significava dizer ’Não à barragem El Zapotillo!’. Pelo que as lutas que hoje estão acontecendo ali envolve muita gente no mundo e representam uma mensagem do que são as violações dos direitos humanos deste tipo de projetos”, disse Sônia. “Temaca está ligado a nós e nós estamos lá também”, disse a ativista brasileira.
Para o MAB, a luta contra os projetos de barragens faz parte do enfrentamento à mercantilização da energia destinadas às grandes transnacionais instaladas no Sul Global, representando uma nova forma de apropriação de recursos naturais.
Do Japão à América Latina
A crise nuclear do Japão, terceira economia mundial, e suas repercussões em países centrais como Alemanha numa serio questionamento à matriz energética dependente de fontes atômicas, geram um contexto dramático para os debates que serão realizados no Parque da Cidade, perto da sede presidencial brasileira.
“O que está acontecendo no Japão fará que as grandes empresas queriam minar a América Latina de grandes barragens. Sabemos que o Brasil, Peru, Colômbia são os três melhores potenciais hídricos que significam uma grande oportunidade de geração de energia para as empresas. Com 2.000 barragens que temos no Brasil, mais 1.500 que querem construir, isso geraria um enorme problema de segurança e seria viver o mesmo que está vivendo o Japão”, analisou Sônia Mara.
Formação política, análise do papel das mulheres nas lutas contra projetos de barragens, seus depoimentos e um contexto de los futuros desafios geopolíticos com eixo na demanda energética do capital farão parte das jornadas de debate no Encontro.
No dia 5 de abril será apresentado o Relatório aprovado pelo Conselho de Defesa de Direitos Humanos do Brasil em que se indicavam e demonstravam as variadas violações a esses direitos nas obras de barragens nesse país. Nessa instância aguarda-se a presença da Ministra de Direitos Humanos, Maria del Rosario Nunes, e também pretendem que a Presidenta Dilma Roussef assine um decreto pelo qual se estabeleçam quem são os atingidos e como deveriam ser indenizados. “Hoje em dia, aqueles dizem quem são os atingidos são as próprias multinacionais -diz a dirigente do MAB. 70 porcento dos atingidos não têm recebido nada em troca”.
Padrão de violações
No Relatório são listadas 16 violações aos direitos humanos em sete obras investigadas. “É o diagnóstico de um padrão de violação de direitos”, resume Sonia. Assim, a expectativa é que os conteúdos desse Relatório cheguem de primeira mão ao Palácio Planalto, à Presidenta Roussef, “para intentar cambiar hoje a relação que têm o governo e as grandes empresas com os atingidos e atingidas. Queremos discutir com Dilma os termos de um novo projeto energético onde a água e a energia esteja ao serviço da soberania dos povos e não do capital”.
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