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12 de Julho de 2012 | | | | |

Saúde integral

Entrevista com liderança mexicana: impactos da Goldcorp na América Latina e objetivos do Tribunal de Saúde contra ela

Várias comunidades da Guatemala, México e Honduras atingidas pela mineradora canadense Goldcorp apresentam um perfil sanitário similar: pessoas com problemas na pele e olhos, afecções no aparelho respiratório, metais no sangue, vários tipos de câncer, casos de partos prematuros e malformações em recém nascidos, além de outros problemas.

Médicos de diversos países têm associado estes problemas de saúde à atividade mineradora, ou a fatores meioambientais provocados por essa indústria. Neste sábado e domingo um Tribunal Popular Internacional de Saúde que será realizado na localidade guatemalteca de San Miguel Ixtahuacán, departamento de San Marcos, pretenderá denunciar os abusos da Goldcorp na América Latina (ver www.tribunaldesalud.org).

As comunidades de San Miguel Ixtahuacán (onde está a mina “Marlin”), do hondurenho Valle de Siria, no departamento de Francisco Morazán (mina “San Martín”), e de Carrizalillo, no estado mexicano de Guerrero (mina “Los Filos”), contarão os impactos de Goldcorp sobre a saúde e o meio ambiente em seus territórios.

Em entrevista com Rádio Mundo Real, a liderança mexicano Gustavo Lozano, que está trabalhando na organização do Tribunal de Saúde, disse que essa instância não só se centrará na saúde física. Lozano, que é integrante da Rede Mexicana de Atingidos pela Mineração (REMA), que por sua vez faz parte do Movimento Mesoamericano contra o Modelo extrativo Minerador (M4), destacou que “também falamos da saúde comunitária”. “Uma mina divide as comunidades, as confronta”, porque existem moradores que a apoiam e outros que a repúdiam. Dessa forma gera-se um enfrentamento, “rompe-se o tecido social”.

A liderança contou ainda que em San Miguel Ixtahuacán “tem aparecido a prostituição, algo que não existia, há uma violência machista muito mais forte”. “O alcoolismo também tem aumentado”, acrescentou. Muitas vezes os grandes empreendimentos em pequenas comunidades, com a chegada de grandes capitais e de muita gente de fora dessas regiões, geram atividades e costumes alheias a esses territórios. É algo que se constata em diversas partes da América Latina.

Lozano soma um terceiro aspecto na hora de descrever o perfil sanitário das comunidades atingidas pela Goldcorp, e que o Tribunal quer levar em conta. Trata-se da “saúde psicosocial, a questão que tem a ver com o medo das pessoas ao que será de suas vidas”. “Os integrantes de uma comunidade perdem o controle de sua vida quando uma mineradora chega e ficam de lado, é uma questão gravíssima porque as pessoas já não sabem o que fazer”, explicou.

O Tribunal de Saúde foi convocado pela Rede em Solidariedade com Comunidades Atingidas por Injustiças Mineradoras (MISN), o M4, a Frente de Defesa Miguelense (FREDEMI), a Comissão paroquial Kolol Qnan Tx’otx’ de San Miguel Ixtahuacán e a Coalizão Internacional contra a Mineração Injusta na Guatemala (CAMIGUA). Aguarda-se a participação de cerca de 500 pessoas entre integrantes de comunidades atingidas pela mineração de vários países latino-americanos, cientistas, acadêmicos, líderes espirituais, jornalistas e defensores de direitos humanos, entre outros.

Rádio Mundo Real perguntou a Lozano por que a Goldcorp foi escolhida como objetivo a ser denunciado no Tribunal. A empresa está presente em vários países da América Latina, com uma vintena de projetos na região e Canadá, contando os empreendimentos já operativos e os que estão planificados.

Mas além disso, a Goldcorp “tem certas práticas corporativas digamos pouco amáveis com as pessoas das comunidades nas que se instala”, alertou Lozano. “E tem se detectado também que a empresa tem corrompido as autoridades locais para poder levar adiante seu trabalho, que não respeita o marco jurídico dos Estados, e que provoca danos terríveis”. O dirigente acrescentou que a corporação canadense tampouco se caracteriza por respeitar e cumprir os processos de consulta prévia, livre e informada que devem ser garantidas para as comunidades locais, para que elas expressem sua vontade em relação aos empreendimentos mineradores.

Os governos não parecem ajudar, conforme o integrante da REMA e do M4. “Evidentemente há um ambiente de tolerância de nossos Estados para com as violações de direitos fundamentais das populações”, disse a liderança mexicano.

O Tribunal de Saúde não tem caráter vinculante. Trata-se de uma instância política, ética, que tem servido para sistematizar informação sobre os impactos da Goldcorp nas comunidades de San Miguel Ixtahuacán, Valle de Siria e Carrizalillo. Porém, seus organizadores esperam que essa informação e a sentença dos juízes no fim de semana sirvam para iniciar ações jurídicas vinculantes na Guatemala, Honduras e no México.

Já quase no fim da entrevista Lozano destacou que o Tribunal de Saúde tem um objetivo ulterior: “incidir nos governos de cada país através do pronunciamento do Júri do Tribunal, para que sejam levados a garantir os direitos humanos das comunidades atingidas, sua saúde integral, e também a autodeterminação dos povos indígenas e a proteção do meio ambiente”.
Além disso, será um momento para “visibilizar midiaticamente, politicamente e socialmente o que está passando nas comunidades”, afim de “alertar outras comunidades” que têm a “ameaça” de instalação de uma mina, porque é importante que sejam organizadas antes da chegada da empresa.

Foto: http://bloglemu.blogspot.com

(CC) 2012 Radio Monde Réel

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