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12 de Janeiro de 2012 | Videos | Justiça climática e energia | COP 17
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Um relatório denominado “Agroecologia para esfriar o planeta” e apresentado em dezembro em Durban, África do Sul, durante a COP XVII das Nações Unidas sobre Mudança Climática, alerta que o atual sistema agroalimentar é responsável por mais de 35 porcento do total das emissões de gases de efeito estufa em nível mundial.
Segundo a pesquisa a agroecologia poderia reduzir as emissões que atualmente geram-se no setor agrícola. A mudança de sistema significa “uma produção e comercialização em escala bem pequena, canais curtos e sobretudo uma diversificação da agricultura”, contrária ao modelo das monoculturas. Assim explicou à Rádio Mundo Real o ambientalista Tom Kucharz, da organização espanhola Ecologistas en Acción, autor do novo estudo.
“Na Europa ainda temos muitíssimas possibilidades para voltar a uma agricultura com camponesas e camponeses”, disse Kucharz, em sintonia com as propostas da Via Campesina. “Isso significaria mudar a Política Agrária Comum e apostar na soberania alimentar”, acrescentou, o que geraria “milhões de empregos” através de um sistema sem “grandes monoculturas nem latifundistas” e “intercalando agricultura (com muitos grãos) e pecuária sustentáveis extensivas”.
Rádio Mundo Real entrevistou Kucharz nos marcos da COP de Clima em Durban e ali o ativista falou do novo trabalho de Ecologistas en Acción e lamentou a atual intensificação da agricultura industrial em nível mundial. Boa parte da entrevista esteve focada no papel da União Europeia (UE) nas negociações sobre mudança climática e frente a outras crises.
“Há muitos anos a UE tenta aparecer nas grandes cúpulas internacionais como o preocupada pela questão meioambiental. Mas temos que mostrar que a UE faz parte do problema e não da solução”, disse Tom. Suas “políticas públicas de transporte, energia, as políticas comerciais, de investimentos, a promoção da penetração das grandes transnacionais europeias no mundo, claramente têm provocado a maior crise ambiental”, explicou.
O ativista espanhol considerou que o bloco europeu chegou a Durban com a intenção de se posicionar como líder das negociações sobre clima e por isso assumiu um “compromisso político” para com um novo período do Protocolo de Kioto, único tratado legal que obriga as nações ricas a reduzirem emissões. Mas esse compromisso não se expressou em reduções de emissões propostos pela EU, que foram escassos, e ainda foi apresentado com importantes condicionamentos: mais mercados de carbono e falsas soluções (esse mesmo mercado, transgênicos, monoculturas de árvores, energia nuclear, além de outras).
Tom não tem dúvidas: a UE só busca garantir novos mercados ambientais no setor serviços (indústria da energia renovável) para suas corporações transnacionais. “Se a UE realmente tivesse vontade política (para enfrentar a crise climática) teria que fechar as usinas térmicas de carvão, deixar de importar, extrair e queimar carvão, teria que reduzir radicalmente o uso de energia fóssil e outros recursos naturais, mudar suas políticas agrárias”, disse o ambientalista. “E se realmente houvesse vontade política, a UE tampouco seguiria com os mecanismos de compensação, as falsas soluções como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou seu mercado de carbono”, disse ainda.
O ativista de Ecologistas en Acción considerou que o mercado de carbono da UE “tem fracassado” e alertou que esse bloco aumentou suas emissões de dióxido de carbono em mais de cinco porcento em 2010.
Acerca da proposta (feita em Durban) de incluir a agricultura nos mercados de carbono, Kucharz considerou iniciativa como uma nova “falsa solução”, e acrescentou que ameaça com novos desalojamentos massivos de populações indígenas e camponesas por parte de empresas imersas nos mercados de carbono e agrícolas.
O ambientalistas também falou sobre a forma em que o bloco europeu tem enfrentado a crise econômico-financeira nos últimos anos, desde uma Espanha que tem visto imensas mobilizações populares de repúdio às medidas de ajuste governamentais, assim como aconteceu em vários países. “Estamos vendo um golpe de estado dos mercados financeiros, estamos vendo um golpe de estado tecnocrático na UE”, considerou o ativista. “Da Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, que têm provocado a crise financeira e também estão provocando volatilidade nos mercados dos alimentos por especular com a agricultura e a alimentação no mundo, vêm vários dos dirigentes que agora têm sido nomeados chefes de Estado na Grécia, Itália, ou presidente do Banco Central Europeu”. “Esta é a realidade que temos agora na UE, que segue os interesses dos grandes bancos do sistema financeiro”, criticou.
A UE gastou desde 2008, segundo Tom Kucharz, 4,3 trilhões de euros “para resgatar o sistema financeiro capitalista, as grandes multinacionais e com ajudas públicas à banca privada”.
Outra cifra alarmante é a de 487 bilhões de dólares; é o que gastam por ano os países mais ricos em subvenções públicas aos combustíveis fósseis”. “Esse dinheiro tem que ir para a luta contra a mudança climática e para as reparações de dívida ecológica e climática que a UE tem com os países do Sul”, conclui Tom Kucharz.
Foto: cambioclimaticounivalle.blogspot.com
Foto: cambioclimaticounivalle.blogspot.com
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