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24 de Abril de 2012 | | | |

Produzir enfrentando o agronegócio, é possível

O que significa o Plano Camponês do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA-Via Campesina) do Brasil? Entrevista com Raúl Krauser

O campesinato brasileiro sempre fez parte da “estratégia de outros”, desde os senhores feudais até o capital industrial e o agronegócio. O Plano Camponês que se propõe como uma construção dinâmica tanto no campo quanto na cidade é uma tentativa de gerar, uma estratégia própria como contribuição às mudanças estruturais no Brasil.

É o que considera o Movimiento de Pequenos Agricultores do Brasil (MPA), organização integrante da Via Campesina com presença em 17 estados do país e cujo perfil é a produção, mas com um claro projeto político, disse em entrevista com Rádio Mundo Real Raúl Krauser, do estado de Espírito Santo e integrante da condução do movimento.

Durante a V Festa Nacional das Sementes Crioulas organizada pelo MPA na região extremo oeste do estado de Santa Catarina em abril, uma vintena de delegadas e delegados internacionais visitaram algumas famílias guardiãs e multiplicadoras de sementes, cuja produção é enviada à Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS) construída e gestionado pelo Movimento.

Com capacidade de processar cerca de 10 mil toneladas por ano, essa UBS e a rede de camponeses, técnicos e outros integrantes do Movimento a sustentam, representam uma clara amostra de que enfrentar a avalanche de transgênicos e sementes industriais, e inclusive exportar sementes da produção camponesa a outros países como no caso da Venezuela em 2011, estando em pleno olho do furacão do agronegócio, é possível desdes que exista um projeto político.

A maldição da estratégia

“Devemos saber o que se conhece como a ‘maldição da estratégia’, ou seja que se você não tiver uma estratégia política, não se preocupe, será parte da estratégia de outro” e os pequenos agricultores familiares camponeses querem ser os construtores dessa estratégia, explicou Krauser.
O Plano Camponês representa precisamente isso: um projeto político que significa ao mesmo tempo que são denunciados os efeitos do capitalismo selvagem na agricultura, atingir uma proposta construída coletivamente e atualizada no calor da luta política.

“Nosso Plano Camponês é nosso referente de onde estamos, onde queremos chegar e que caminho vamos seguir”, explica Raul. “É a proposta do campo para uma nova sociedade, que é pelo que lutamos”.

O papel histórico que para as elites brasileiras tem cumprido o campesinato é fornecer mão de obra barata para a produção industrial urbana, ao mesmo tempo que produzir comida a preços baixos –autoexplorando-se- para manter reduzidas as taxas de inflação. “Isto tem sido assim historicamente e não tem mudado com os governos que temos tido recentemente no país. Os programas que existem hoje para o campesinato só procuram com que os camponeses sobrevivam nessas condições enquanto as cidades se preparam para receber essa mão de obra”, sob o conceito de que há lugar para 60 mil famílias no campo e não para oito milhões como atualmente existem, analisa o MPA. No entanto, o dirigente indica que a realidade é outra: aqueles municípios onde existem melhores condições de vida são precisamente os que têm mais peso em sua periferia de camponeses morando e produzindo.

“Se temos um campesinato forte, teremos possibilidade de produzir alimentos sãos em quantidade e qualidade para todos, manejando o carbono, esfriando o planeta e gerando emprego e desenvolvimento econômico genuíno também nas cidades”, reafirma Raul.

Para isso a medida estrutural indispensável é a reforma agrária, incluída nela a planificação da produção e sua comercialização e a mobilização para que não mais camponeses sejam desalojados de suas terras para a concretização de mega-projetos.

“Quando o camponês não consegue estabelecer uma relação direta com quem consome seus produtos, ali se produz uma exploração, tanto do camponês quanto do habitante da cidade, que paga muito pelo alimento enquanto o camponês recebe muito pouco”.

Krauser indica que, para funcionar corretamente, aquelas vitórias em nível de incidência no governo requerem a presença forte das organizações de base, já que o Estado em si próprio sido construído para garantir o lucro do agronegócio, não dos camponeses. As organizações estão em muitos casos cobrindo os vazios do próprio Estado.

Ética e Plano Camponês

O Plano Camponês é, portanto, teórico mas também prático. É político mas também ético. “Queremos consumir algo que viajou 7.000 quilômetros até minha mesa, que está cheio de agroquímicos ou algo são e produzido em nível local?”. A perguntas como essa pretende dar resposta o Plano Camponês.

“Quando um camponês planta uma semente de milho crioulo é uma luta contra a transnacional, concreta. No Rio Grande do Sul, 300 mil quilos de alimentos por mês produzidos por nós vão para os bairros pobres da cidade, outro tanto no Espirito Santo, na Bahia, beneficiando mel, etc. Ou seja, não podemos esperar mudar a sociedade para fazer nossas propostas, temos que demonstrar que é possível ir construindo o novo enquanto tentamos superar o velho”, indica finalmente o dirigente do MPA.

Foto: http://www.flickr.com/photos/ignaciocanales/

(CC) 2012 Radio Monde Réel

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