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25 de Janeiro de 2012 | Entrevistas | Anti-neoliberalismo
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“A qualidade de vida não está em primeiro lugar nos bens que temos, está no prazer da convivência com amigos, no prazer de fazer o intercâmbio de culturas, de ter tempo para nós mesmos, tempo de recreação, enfim, no prazer de viver”. Definitivamente, a qualidade de vida está “na felicidade de viver junto com os demais e de pensar que o futuro pode ser melhor”.
As palavras do ativista Jean Pierre Leroy, da organização brasileira FASE, resume bem a entrevista que a Radio Mundo Real realizou ontem para que ele nos dê as “premissas” para uma “outra economia”, em contrapartida com a “economia verde” do capitalismo.
A conversa com Leroy transcorreu enquanto se realizava em Porto Alegre - Brasil, o seminário “Rumo a Rio+20: Por outra economia”, que começou na terça-feira e que tinha o ativista de FASE como um dos participantes. O acontecimento, realizado de forma independente ao Foro Social Temático (parte do processo do Foro Social Mundial) que está ocorrendo também em Porto Alegre, buscou denunciar as apostas governamentais e corporativas para a “economia verde” e vislumbrar alternativas advindas dos movimentos e organizações sociais.
Na entrevista Leroy reconheceu a importância dos bens produzidos pelo capitalismo para o bem-estar das pessoas, como uma máquina de lavar roupas, uma geladeira ou a energia elétrica; e disse que é necessário que mais e mais pessoas tenham acesso a essas facilidades. Mas assegurou que é necessária uma “transição”. “É impossível ter sempre mais e mais porque estamos rumando em direção a uma catástrofe”, disse. É necessário “lentamente tomar consciência do limite, do abismo que está adiante, para começar progressivamente a mudar o estilo de vida e a pensar que a qualidade de vida não está em primeiro nos bens que temos”, concluiu.
Essa frase do dirigente brasileiro explica de alguma forma uma parte central de seu pensamento: “não podemos colocar a economia no centro da reflexão”. É por isso que Leroy expôs varias linhas que, em sua opinião, deveriam ser algumas das premissas ou rotas para “outra economia”, contrapondo a lógica de comercialização absoluta da natureza. Isso se trata, finalmente, de uma aposta por “outro mundo possível”.
Entre essas premissas, Leroy destacou, por exemplo, a necessidade de definir com que ética nós desejamos viver. Reivindicou a chamada “ética do carinho” para as pessoas mais próximas, depois a ética da cidadania preocupada com o futuro do país e especialmente para os mais desprovidos. Portanto, deu um passo muito maior para falar da urgência de uma “cidadania universal”, porque a crise ambiental e em particular a climática faz com que “nossa responsabilidade se estenda ao mundo”.
O integrante da FASE também ressaltou a necessidade da igualdade
entre os seres humanos e lamentou as perseguições e deslocamentos que diversas comunidades sofrem, entre elas as comunidades rurais.
Neste momento de entrevista Leroy manifestou uma “profunda solidariedade com os oprimidos”, “os desprovidos do mundo”.
“Eles ainda são a classe massacrada pelos donos do poder político e econômico”, disse.
Outros aspectos sublinhados pelo ativista brasileiro são o da “pluralidade” de comunidades sociais em diversas partes do mundo, grupos, povos, identidades, e o elo da forte “defesa de território” de muitas de elas. Leroy falou de uma “estratégia social de ação dos povos junto com a natureza” e nunca contra ela. “É isso que o mercado quer transformar em mercadoria”, lamentou ele.
Para o dirigente brasileiro as comunidades locais cuidam do futuro da humanidade através de sua gestão dos territórios e dos bens comuns. “Precisamos de nossos ecossistemas fora do mercado como para garantir o nosso futuro”, concluiu o ativista.
Foto: entornointeligente.com
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