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2 de Maio de 2012 | Entrevistas | V Festa das Sementes MPA-Brasil | Soberania alimentar
A agrônoma Daniela Nerling explica o tecido social que o Movimento de Pequenos Agricultores do Brasil (MPA-Via Campesina) conseguiu construir sua Usina de Beneficiamento de Sementes (UBS) na região do extremo oeste do estado de Santa Catarina.
As sementes como patrimônio dos camponeses e camponesas à serviço da humanidade são o centro do trabalho do MPA nesta região sul do Brasil, que tem sido invadida por cultivos transgênicos de milho e soja, entre outros.
Cerca de 55 famílias camponesas funcionam como guardiães das variedades crioulas para que outras mil se encarreguem de sua multiplicação mediante práticas agroecológicas, explicou Daniela à Rádio Mundo Real durante a Festa Nacional das Sementes Crioulas celebrada em Anchieta.
Sobre a Festa, a integrante do MPA indica que cada vez são mais os produtores que se aproximam ao movimento procurando aceder a sementes crioulas ou multiplicá-las, diante do crescente encarecimento delas no mercado e os maus resultados que têm tido para os camponeses familiares.
“Para alguns camponeses, também, o fato de que sejam variedades crioulas representa outros significados, não somente trata-se de renda, mas de algo mais profundo”, acrescenta. Isso é claro na hora de percorrer algumas as terras camponesas nas proximidades da UBS. Rádio Mundo Real acompanhou a delegação internacional que fora recebida em duas áreas camponesas, produtores de sementes de milho e feijão, onde percebia-se uma clara consciência das famílias de que plantar suas sementes lhes dá mais liberdade, mais resistência à variabilidade climática e mais orgulho e auto-estima pessoais.
“A chegada da UBS aqui a nossa zona significou uma mudança profunda, uma salvação para nós”,diz um produtor de cerca de 20 hectares onde se combinam pecuária com muito milho, feijão e fruticultura como também videiras.
Junto a sua família comercializa a produção de alimentos frescos em duas feiras semanais na cidade de San Miguel de Oeste (SC). Os grãos vão para UBS como semente e para consumo próprio.
“Antes de que começasse a trabalhar a UBS, cultivei soja aqui”, diz o camponês em meio a um cultivo de feijão crioulo. “Não sabíamos o que significava isso, o cultivar transgênicos, agora o sabemos e somos multiplicadores de variedades crioulas”.
O apego a sua terra é grande: nos mostra as araucárias que cultivara há 50 anos seu pai seguindo a tradição europeia de garantir a madeira para a casa da geração seguinte. Também ele plantou araucárias para seus filhos e tudo parece indicar que as verá crescer e se transformar em tetos de novas gerações de camponeses em Santa Catarina.
Planificação e demanda
A região onde funciona há três anos a UBS foi de monocultura tabacaleira, como acontece atualmente na zona próxima a Santa Cruz, no Rio Grande do Sul, onde o MPA conta com um centro de formação e produção que promove a diversificação produtiva, alimentar e agroenergética, enfrentando assim as transnacionais que submetem os tabacaleiros.
Daniela trabalha como coordenadora da equipe técnica da UBS, tanto no campo como dentro da própria Unidade e indica que é difícil prevenir a contaminação genética e conservar as variedades crioulas em pleno eixo de cultivos transgênicos.
Para isso é preciso uma constante planificação para evitar que coincidam os períodos de polinização entre os milhos crioulos e os transgênicos cultivados convencionalmente.
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