3 de julio de 2012 | Noticias | Derechos humanos | Soberanía Alimentaria
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O assassinato de dois pescadores no Rio de Janeiro logo de terminada a Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre desenvolvimento sustentável “foi um recado”, disse o ecologista Fernando Campos, da Amigos da Terra Brasil.
“As corporações dão uma resposta, uma resposta muito triste e injusta (…) ao enfrentamento e a resistência. Sua vontade é que o povo se cale, que as pessoas não falem, que não haja nenhum movimento e resistência”, alertou o ativista.
Os militantes da Associação de Homens e Mulheres do Mar (AHOMAR) Almir Nogueira de Amorim e João Luiz Telles Penetra (Pituca) desapareceram no dia 23 de junho. Seus corpos sem vida apareceram nos dois dias seguintes nas costas da baía de Guanabara. Os dois pescadores e defensores dos direitos humanos foram assassinados.
Há três anos outros dois dirigentes da AHOMAR também foram assassinados. Até o dia de hoje a justiça não tem esclarecido esses casos. AHOMAR nasceu em 2009 para defender os direitos dos pescadores artesanais do Rio de Janeiro, especialmente os atingidos por uma refinaria e um gasoduto da empresa Petrobras na baia de Guanabara.
As grandes empresas não querem saber de exemplos de resistência, disse Fernando em entrevista com Rádio Mundo Real, apenas horas após de saber do assassinato de Nogueira e Telles. Buscam que o “exemplo de liderança do processo de reivindicação, de proteção dos direitos humanos, que é AHOMAR, não seja um exemplo para os outros movimentos e comunidades”.
Nesse sentido, Amigos da Terra Brasil deixa clara sua posição. “Nós reafirmamos que a AHOMAR é uma organização fundamental com um trabalho fenomenal”, e é importante manter suas denúncias e acompanhar seu processo de trabalho, disse Fernando.
A federação ecologista Amigos da Terra Internacional e outras organizações sociais realizaram vários tours entre 15 e 17 de junho no Rio de Janeiro, antes da conferência da ONU, para alertar ativistas e imprensa de diversas partes do mundo sobre os impactos de várias corporações nas baias de Guanabara e Sepetiba.
As atividades de empresas como Petrobras, a mineradora Vale e a siderúrgica alemã ThyssenKrupp têm provocado nessas zonas, entre outros impactos: casos de alergias agudas, problemas respiratórios, hemorragias nasais, surgimento de pragas, fortes travas e proibições à atividade dos pescadores artesanais, desalojamentos de moradores e perseguições de dirigentes sociais.
Em Guanabara e Sepetiba vivem milhares de famílias de pescadores artesanais e muitos desses trabalhadores lideram as resistências aos grandes empreendimentos. Os pescadores denunciaram várias vezes as ameaças sofridas, os ataques físicos e os assassinatos de companheiros há três anos. Conforme a AHOMAR, os ataques provém de pessoas ligadas a grupos de extermínio, seguranças contratados pelas empresas e consórcios da zona, e milícias que atuam na região.
Na entrevista com Rádio Mundo Real, Campos lamentou as violações dos direitos humanos e dos territórios por parte das grandes corporações em Sepetiba e Guanabara. Denunciou as empresas, que vendem-se como sustentáveis ao tempo que são apontadas por graves crimes. “Nem um minuto de silêncio mais”, pediu Fernando. “A denúncia das violações de direitos humanos não tem negociação”, acrescentou, ao tempo pediu que sejam procurados realmente os responsáveis pelos assassinatos e que a justiça atue em consequência.
O ecologista brasileiro criticou o fato de que os crimes de Nogueira e Telles fossem apresentados pelo menos por uma parte da imprensa local como consequências de conflitos entre moradores. Acrescentou que o mesmo é feito quando são assassinados camponeses, por exemplo. “É uma prática do capital, criminalizar essas comunidades como se fossem conflitos internos. A verdade é que essa gente (os pescadores da baia de Guanabara) estão em um território em disputa, com um conflito ambiental documentado, registrado pela Universidade”. “Não tem como esconder que há uma empresa estatal, com interesses profundos e fortes na região, e essa comunidade é uma pedra no caminho da empresa”, disse Fernando.
Foto: albertomarques.blogspot.com
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