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21 de Outubro de 2011 | Entrevistas
O discurso mais presente nos relatórios internacionais, entre a maioria dos governos e na mídia equipara investimento com crescimento... e até com desenvolvimento. No entanto, está claro que os maiores “investidores” em agricultura não são as corporações empresariais mas, acumulativamente, os milhões de camponeses em todo o mundo.
Foi o que disse em sua apresentação nesta semana durante a 37ª Sessão do Comitê de Segurança Alimentar Mundial (CFS, sigla em inglês) o pesquisador holandês Jan Douwe van der Ploeg, que ensina nos Países Baixos e também em universidades como a de Pequim, na China.
O especialista estudou vários casos de apropriação de terras e águas de irrigação por parte de transnacionais em diferentes continentes e demonstra claramente que a atual situação de extensão do agronegócio no controle desses recursos “não soluciona, mas aprofunda a situação de insegurança alimentar” em escala mundial. “Estes investimentos em agricultura não contribuem com a solução, mas fazem parte do problema”, disse à Rádio Mundo Real em entrevista posterior a sua fala.
“Os camponeses investem muito, não através de mecanismos bancários mas de seu trabalho: constroem terraços, irrigações, aumentam a fertilidade do solo e isto traz como consequência o fato de que a agricultura camponesa seja produtiva. Também temos que levar em conta que frequentemente está ameaçada e isso se relaciona com o que hoje em dia se fala em nível mundial sobre a apropriação de terras. Eu diria que essas compras de terras não são um investimento em agricultura, mas sim a desapropriação das possibilidades de desenvolvimento”, disse van der Ploeg.
Por exemplo, disse o pesquisador, por cada hectare irrigado pela agricultura industrial, tira a água de sete hectares de produção camponesa. “Isso não é progresso, é mais precisamente uma regressão”, reflete. “Além disso -acrescenta o técnico holandês que é engenheiro em agronomia- em geral esta agricultura para economizar custos constrói os canais de irrigação, mas não as drenagens, o que está provocando uma salinização dos solos”.
Em troca, com base em dados científicos, van der Ploeg afirma que “a agricultura familiar e camponesa pode alimentar o mundo”. “Todos os estudos sérios existentes afirmam sem dúvidas que tanto produtiva, quanto econômica, ambiental e socialmente, a agricultura familiar é mais eficiente do que a agricultura empresarial”, destaca o pesquisador europeu.
“Se a Europa tem podido manter uma agricultura forte é justamente pela grande presença de produção familiar e camponesa. A presença de grandes empresas em agricultura é mais uma expressão de barbárie do que de civilização”, concluiu Jan.
foto: M. Litvinsky / FIAN
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