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18 de Dezembro de 2012 | Entrevistas | Água | Direitos humanos | Gênero
De 12 a 14 de dezembro foi realizado o V Encontro Latino-americano de Experiências de Educação Popular Ambiental na cidade cubana de Pinar del Río. O encontro convocou educadores populares ambientais da Argentina, Brasil, Guatemala, México, Colômbia, Venezuela, Peru e Cuba, com uma participação de 80 homens e mulheres.
Após 10 anos de articulação de experiências, o desafio apresentado pelo Centro de Educação e Promoção para o Desenvolvimento Sustentável -CEPRODESO-, que foram os anfitriões e criadores históricos deste cenário, consistiu em fazer dialogar as experiências de educação popular ambiental sobre os sentidos e a incidência política destas práticas.
O Encontro também foi realizada como parte dos esforços para continuar socializando os porquês e “para quês” das lutas ambientais, e fazê-lo não só a partir da experiência, mas também desde o sujeito social que compõe as redes de construção coletiva.
Rádio Mundo Real, através de seu correspondente Danilo Urrea, esteve presente em Pinar del Río e conversou com Jesús Figueredo, integrante do Centro Memorial Dr. Martin Luther King Jr., e que colabora no programa de educação popular e acompanhamento de experiências locais. Jesús também faz parte da Rede de Educadoras e Educadores Populares de Cuba e da Rede de Educação Popular Ambiental.
Um giro conceitual
Partindo da educação ambiental clássica que se desenvolvia nos anos oitenta, as organizações cubanas começaram a se transformar e fizeram um giro fundamental cerca da Cúpula da Terra de 1992 no Rio de Janeiro, mudando a perspectiva desde uma crítica profunda à educação ambiental e suas limitações de leitura das relações entre seres humanos e natureza.
O “Período especial” em Cuba, iniciado na década de ’90 e que, conforme Figueredo poderia se dizer que ainda se mantém, revela uma crise econômica com consequências nas relações entre os seres humanos e deles com a natureza. Isso se traduz em uma ruptura e transformação desde a ética e a moral do povo cubano, gerando-se o surgimento de um novo enfoque de educação em relação ao ambiental do popular.
O V Encontro foi realizado através de uma feira de experiências que reuniu comunidades de prática como sujeito coletivo de análise e debate. Una destas comunidades foi a de formação e articulação.
“Existem pelo menos três elementos essenciais que temos discutido a partir de nossas práticas, falamos de uma comunidade de prática, mas não é uma comunidade que não leva em conta a individualidade, as experiências, a praxis de cada pessoa. Daí, marcamos três elementos básicos: o sentido político e a incidência política da educação popular ambiental; o elemento da epistemologia, como construímos uma outra epistemologia, precisamente dos sentidos políticos, da visão holística integradora de um trabalho ambiental e sobretudo formativo; e a dimensão ética desse sentido político e dessa construção de conhecimento, dessa episteme”, expressou Figueredo.
Natureza como sujeito social
A desconstrução das relações de poder de dominação constitui-se como elemento transversal de análise, partindo da passagem de uma educação popular muito focada nas relações sociais, a uma que vê a natureza como um sujeito mais do sistema de relação.
E ao falar do sentido político da educação popular houve referência à intenção de transformar os padrões de relação de dominação que se reproduzem nas relações entre os seres humanos e com a natureza.
“Para chegar a esse sentido político e ser coerente com ele, tomamos nossos espaços de formação como processos vivenciais, o que significa levar em conta dois elementos das estratégias de ensino/aprendizagem que colocamos em prática. Um é a dinâmica dos grupos de pessoas que vão trabalhar e desenvolver esses espaços; e o outro o temático, os conteúdos, os conhecimentos que são colocados em socialização dentro dessa dinâmica”.
A construção de um saber coletivo, em termos de uma nova epistemologia para a colocação em andamento da educação popular, produziu no Encontro a reflexão sobre as formas de produzir o conhecimento. Nesta perspectiva, o diálogo de saberes e o âmbito relacional foram valorizados pelos assistentes como elemento determinante da outra epistemologia. Sobre isto Figueredo indicou que “os enfoques os fazemos a partir de um sistema sócio-natural, não falamos de sociedade – natureza, falamos de sujeitos que co-habitam um sistema sócio-natural […] A visão é cosmo-cêntrica e não tanto antropocêntrica, não tanto centrada no ser humano mas sim na relação desse sistema, creio que essa é outra epistemologia que estamos construindo”.
A ética no centro
Nos debates que gerou o Encontro, o elemento da dimensão ética na educação popular ambiental foi apresentada como não necessariamente coincidente com as normas estipuladas, com o moral e socialmente aprovado.
O elemento ético foi projetado como a consideração dos outros seres humanos como sujeitos e não como objetos dentro dos sistemas de relação. “São processos nos quais não vamos somente com a função de ensinar, devemos ir com a atitude também de aprender, não pode ir só com a atitude de questionar, mas sim de deixar questionar dos significados das pessoas. É aí onde começa a construção de outro tipo de epistemologia, de outro tipo de conhecimento, somando-se a visão sistêmica, holística, e ao mesmo tempo é muito ético levar em conta que o outro não é o objeto que eu utilizo, que eu domino, que eu manipulo; e a educação popular tem feito isto como um eixo fundamental de luta”, destacou o educador ao entregar suas análises do que foi a comunidade de prática de formação e articulação, e seus debates como sujeito coletivo.
Foto: Jesús Figueredo, www.cmlk.org
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