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23 de Março de 2010 | Notícias | Anti-neoliberalismo | Soberania alimentar
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O processo de unidade das comunidades indígenas maias no sul do México foi uma resposta ao regime escravista a que eram submetidas pelo latifúndio e tem seu correlato na figura bíblica do Êxodo dos hebreus.
É o que afirmou à Rádio Mundo Real o religioso da ordem dominicana Jorge Rafael Díaz, Foro convidado ao Fórum Social de Montes Azules realizado na comunidade Candelaria, na Floresta Lacandona no início de março.
A história do Congresso Indígena de 1974, a partir do qual as comunidades começam um caminho unitário sob a idéia Quiptic ta lecubtezel expressada na língua tzeltal originário destas comunidades de origem maia (nossa força e progresso para ter boa vida) é, para Jorge Rafael, um bom espelho onde encontrar o caminho a seguir hoje em dia, onde essa unidade debilitada tem permitido o desalojamento forçado de várias comunidades por parte das autoridades do Estado.
A organização unitária original era uma unidade ou “União de Uniões” que respeitava a autonomia de cada comunidade a favor de uma plataforma comum que incluía aspectos de saúde, a educação, a alimentação e o comércio de seus produtos.
“Esta organização aqui na floresta foi modelo de unidade para a estruturação de organizações camponesas ainda fora deste território chiapaneco”, diz o religioso.
Nesse processo convergiram fatores objetivos de auto-defensa conjunta entre as comunidades e o papel da Diocese de Ocosingo, uma das principais cidades do estado mexicano de Chiapas, liderada nesse tempo por Don Samuel Ruiz, bispo que cumpriu um papel crucial inclusive nas negociações de paz posteriores ao levantamento do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) em janeiro de 1994.
De fato, o Fórum Social de Montes Azules concluiu com um renovado chamado à unidade das comunidades para enfrentar a violência de Estado expressada nos desalojamentos e destruição de comunidades.
A experiência do frade dominicano indica que explicar a fragmentação das comunidades significaria analisar multidão de fatores. No entanto, afirma que os problemas surgiram devido à intervenção dos de “fora”.
“Durante o conflito zapatista, a entrada do Exército para fustigar as comunidades não diferenciava entre aquelas comunidades zapatistas e as que não eram. A partir do movimento armado, a presença do Exército introduziu nas comunidades aspectos dos que não havia antecedentes como o consumo de droga” e a prostituição.
As novas gerações, diz Jorge Rafael, “só conhecem esta história de rupturas e de golpes políticos e militares que receberam estas comunidades” mas ignoram a história unitária precedente.
A partidocracia mexicana também teve um papel divisionista entre as comunidades “privilegiando” os chamados “lacandones”, dóceis às ordens oficiales recebendo vastos territórios, o que hoje representa o argumento legal utilizado para os desalojamentos.
“Todos estão em risco”
A chave para retomar o caminho do encontro e a resistência conjunta atravessa a identidade como nação, colocando num plano secundário as diferenças organizacionais, reflete Jorge Rafael.
“Todas as comunidades correm o mesmo risco”, diz e lembra que no século XVI uma rebelião conjunta de toda a nação tzeltal contra os colonizadores espanhóis foi vitoriosa: pelo que entende “existe algo já muito arraigado nestas comunidades”, que está latente.
“Talvez essa é a intenção deste fórum: fazer memória histórica, demonstrar que eles conservam a floresta e obter orientação política para essa identidade”, conclui.
(Foto: Carlos Dardón)
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