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12 de enero de 2011 | |

Escravos

Camponeses tratados como animais na Argentina

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Nos últimos dias de 2010 e os primeiros deste ano foram descobertas várias fazendas na província argentina de Buenos Aires com centenas de trabalhadores em condições de escravidão e grave vulneração dos mais elementais direitos humanos. Os casos, já em mãos da justiça, envolvem importantes empresas, dentre as que se destaca a transnacional de grãos Nidera, de origem holandês.

O Movimento Nacional Camponês Indígena de Argentina (MNCI) adverte que estes casos são normais no campo desse país, como uma das “caras da agricultura industrial”, e indica que “é urgente transformar o modelo agropecuário nacional” embora não seja simples.

No dia 30 de dezembro, o ministério de Trabalho da Província de Buenos Aires realizou uma inspeção na fazenda El Algarrobo, situada na Paragem Beladrich da comarca de San Pedro. A fazenda tem cerca 1600 hectares, delas 200 são arrendadas por Nidera.

Os resultados da inspeção são próprios de um regime de escravidão. Nidera, acusada na Argentina de evasão impositiva por cifras milionárias, tinha presos 130 trabalhadores, crianças, adolescentes e adultos, para a colheita de milho. Os operários trabalhavam dez horas ao raio do sol sem carteira assinada, não sabiam onde estavam, não podiam sair, não tinham luz, nem água e lhes descontavam do salário, que nem sequer sabiam de quanto era, os mantimentos que a empresa lhes vendia a preços altíssimos, conforme o jornal argentino Página 12. O recrutamento dos trabalhadores, de condições econômicas muito precárias, foi feito na província de Santiago del Estero.

No dia 4 de janeiro a justiça entrou na fazenda La Luisa, também na paragem Beladrich, e encontrou 69 trabalhadores em condições muito similares aos da fazenda da Nidera, também levados desde Santiago del Estero. Havia menores que os empresários foram retirados da fazenda antes de que chegasse a inspeção. Neste caso, a empresa infratora é a argentina Southern Seeds Production, dedicada também aos agronegócios.

Conforme Página 12, que esteve na inspeção, os trabalhadores desfolham milho todos os dias durante 12 horas e para dormir contavam com 30 beliches dentro de uma barraca de lona. Não tinham banheiros, nem luz, os alimentos perecedeiros eram conservados à intempérie e água para tomar banho era levada em recipientes de agrotóxicos. Os camponeses tampouco podiam sair da fazenda, porque corriam risco de perder todos o emprego.

Posteriormente, a justiça fez outra inspeção na comarca de Ramallo, também província de Buenos Aires, e encontrou 150 trabalhadores em condições infrahumanas, dentre eles, várias crianças, na fazenda Santa Celestina, e outra situada enfrente, as duas da empresa de grãos argentina Status Ager.

Os operários, também santiaguenhos e dedicados a desfolha milho, viviam em trailers ou galpões de chapa, cheios de beliches amontoados, conforme Página 12. Não tinham água potável, banheiros, luz nem lugar onde manter os alimentos frescos. Também tinham proibido sair das fazendas.

Nos três casos estão sendo realizadas investigações judiciais por tráfico de pessoas. O MNCI destaca num comunicado público que os fatos descobertos em San Pedro e Ramallo não são casos isolados, mas sim inerentes ao modelo de agricultura industrial defendido pelos grandes latifundistas do país e as corporações transnacionais dos agronegócios.

O movimento camponês, que faz parte da Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC) e Via Campesina, indica também outras faces desse modelo agrícola: a feroz usurpação de terras de povos originários, a concentração da terra e a água em poucas mãos, a repressão e assassinato de camponeses e indígenas, o amontoamento irracional de população nas grandes cidades e a consequente falta de moradía e trabalho, entre outras coisas.

“Os flagelos mencionados não podem ser eliminados sem uma transformação profunda do modelo, que não será simples”, reconhecem os camponeses argentinos. Acrescentam que: “o caminho é a agricultura familiar, camponesa, originária, onde a terra e a água não sejam mercadorias, mas sim elementos vitais com os quais o Estado planifique o desenvolvimento de nossa pátria, um campo cheio de povo arraigado com tecnologia adaptada às necessidades da produção e não aos negócios das corporações”.

“É urgente um programa que impulsemos entre as organizações sociais e políticas, somando forçando e lutas do campo e a cidade para atingir a soberania alimentar”, sintetiza o MNCI.

Foto: http://www.flickr.com/photos/lungsliu/

(CC) 2011 Radio Mundo Real

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