9 de octubre de 2012 | Entrevistas | Honduras libre | Acaparamiento de tierras | Anti-neoliberalismo | Derechos humanos | Luchadores sociales en riesgo
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“Na semana pasada, na quinta-feira concretamente, fui notificado pelo ministro de Segurança e pelo próprio presidente da República que se preparava um atentado contra mim e que deveria tomar las precauciones y las medidas correspondentes”, disse à Rádio Mundo Real o dirigente camponês hondurenho Rafael Alegria, coordenador da Via Campesina internacional.
Não é um filme. É a vida real na Honduras governada por Porfirio Lobo, sucessora do golpe de Estado de Roberto Micheletti e as Forças Armadas em 2009. Mais de 50 camponeses foram assassinados nos últimos dois anos e meio na zona de Bajo Aguán nesse país, em pleno contexto de luta pela terra.
Rafael, que coordena também a Via Campesina Honduras, tem sido geralmente uma das caras mais visíveis da luta camponesa nesse país. No dia 4 de outubro o dirigente recebeu o anúncio do ministro de Segurança, Pompeyo Bonilla, da existência de um plano para atentar contra sua vida. Várias organizações sociais hondurenhas se uniram a Rafael Alegría e pediram uma entrevista de caráter urgente com a Comissão de Reforma Policial, para informar sobre os fatos, e uma reunião com Porfirio Lobo.
O presidente confirmou nessa instância que existe a informação do plano contra o dirigente, que também seria contra o ministro do Instituto Nacional Agrário, César Ham, e a ministra de Direitos Humanos, Ana Pineda. Esta informação foi ratificada pelo diretor da Polícia, Juan Carlos Bonilla. Conforme a agência Prensa Latina, Ham e Pineda coincidem com Rafale na defesa dos direitos dos camponeses enfrentados com empresários na luta pela terra em Bajo Aguán.
“Não me disseram mais nada, nem os motivos, nem nada mais. Pessoalmente tenho tomado as precauções, as medidas necessárias, tenho feito a denúncia nacional e internacional ontem em um rodada de imprensa”, disse Rafael Alegría em entrevista com Rádio Mundo Real. “Estamos pedindo aos organismos do Estado agilizar a investigação, desarticular o plano e garantir minha vida. Neste momento estamos bem, tenho recebido muita solidariedade tanto em meu país como em nível internacional e isso me satisfaz muito”, acrescentou o dirigente.
Na segunda-feira várias organizações sociais emitiram um comunicado público desde Tegucigalpa, capital do país, onde manifestam “preocupação” diante da “informação oficial recebida contra a liberdade e a vida de seres humanos, e especialmente a do companheiro Alegría, defensor dos direitos camponeses, fundamentalmente o direito à terra”. Afirmaram também que “Por tal motivo estamos apresentando a denúncia diante das instituições encarregadas para a investigação e em organismos internacionais”.
Dentre os que assinaram o documento estão o Comitê de Familiares de Detidos Desaparecidos em Honduras, a Central Nacional de Trabalhadores do Campo, a Federação Unitária de Trabalhadores, a Associação Nacional de Camponeses e a Via Campesina. O comunicado destaca vários momentos desde 2009 em que Rafael Alegría foi ameaçado, avisado de planos de ataques contra ele ou perseguido.
No dia 2 de julho desse ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) decidiu ampliar uma medida cautelar para proteger a vida e integridade de várias pessoas em Honduras, dentre elas o dirigente camponês. No dia 11 de agosto do mesmo ano, duas pessoas a bordo de um veículo atiraram três vezes com armas de alto calibre na sede da Via Campesina Honduras, em Tegucigalpa.
Segundo informação por recolhida por Rádio Mundo Real, mais de uma vez supostos matadores de alugueç chegaram para buscar Rafael Alegría nas instalações da Via Campesina. Nessas oportunidades o dirigente não estava. Assim, no dia 8 de fevereiro de 2011 o camponês foi informado de forma confidencial de que na cidade estadunidense de Miami, Estados Unidos, planificava-se sequestrá-lo e torturá-lo, assim como o sub-coordenador da Frente Nacional de Resistência Popular, Juan Barahona.
As organizações que emitiram o comunicado ontem pedem agilizar os mecanismos de proteção para os defensores e defensoras de direitos humanos, investigar as denúncias das vítimas de perseguição e ameaças e identificar e julgar os autores intelectuais e materiais desses fatos. Pedem ainda solidariedade com o povo hondurenho em general.
Rafael Alegría manifestou à Rádio Mundo Real que Lobo ofereceu a ele uma guarda policial. Sobre isto afirmou o seguinte: “Temos um problema no país e é que a confiança, a credibilidade de nossa polícia tem se perdido definitivamente. Neste momento, sem descartá-la (a proteção policial), estamos tendo apoio, solidariedade, de vários movimentos sociais, que me acompanham, estão atentos, e até agora não tem acontecido nada, não observo nada estranho tampouco, e estamos em contato com os organismos de segurança do Estado”.
O dirigente camponês afirmou que as autoridades do país não garantem o respeito à vida e aos direitos humanos e reafirmou que tem o apoio de diversos setores sociais. “Estamos em espera de que a comunidade internacional também pressione para que seja desarticulado este plano violento, macabro”.
O coordenador da Via Campesina Honduras também fez a denúncia à Procuradoria de Direitos Humanos. Destacou que a ameaça não é só contra ele, más também contra os ministros Ham e Pineda, “além dos companheiros do Movimento Unificado Camponês do Aguán (MUCA), que também têm denunciado ameaças a sua integridade física”.
No dia 22 de setembro foi assassinado a tiros o advogado do Movimento Autêntico Reivindicador Camponês de Aguán (MARCA), Antonio Trejo Cabrera, de 41 anos, perto do aeroporto internacional de Toncontín, em Tegucigalpa. Dos dias depois, na cidade de Choluteca, foi assassinado o fiscal de Direitos Humanos Manuel Eduardo Díaz.
Rafael rejeitou a opção do asilo político. “Aqui nasci, cresci e vou morrer”, disse, antes de destacar que tem “grandes compromissos sociais com os diversos setores organizados da sociedade hondurenha, indígenas, camponês e a resistência mesma”. Rafael Alegria destacou também que ele faz parte de “um processo de luta de construção e de reconstrução de nossa pátria, com o Partido Libertad y Refundación (LIBRE)”, liderado pelo ex-presidente José Manuel Zelaya e que apresenta como candidata para as eleições presidenciais de 2013 a esposa do ex-presidente, Xiomara Castro. “Não há dúvidas que também isto provoca nervosismo e desconformidade entre os grupos de poder oligárquico, que são os que pretendem atentar contra minha vida”, concluiu Rafael Alegria.
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