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22 de Março de 2012 | Notícias | Água
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O Uruguai foi o primeiro país do mundo a declarar a água como direito humano fundamental, através do plebiscito e a conseguinte reforma constitucional de outubro de 2004. Também estipulou-se nesse momento que os serviços de água potável e saneamento sejam prestados exclusivamente pelo Estado. Nesta quinta-feira, no Dia Mundial da Água, sobram os motivos para celebrar, como também alguns motivos para estar mais do que alertas, advertem organizações sociais.
A Comissão Nacional em Defensa da Água e da Vida (CNDAV), que reúne grupos que trabalham em defesa da água, e que foi a promovedora da reforma de 2004, realizará hoje uma jornada de celebração na Universidade da República, na capital do país, Montevidéu. Ali serão projetados vídeos e serão entregues publicações e folhetos.
“No entanto, também é uma jornada para alertar: o rápido e impactante desenvolvimento dos agronegócios no país, com a soja e o florestamento principalmente (e os agrotóxicos associados), questiona a quantidade e qualidade de nossas águas, inclusive em algumas das fontes mais importantes”, expressava-se ontem em um comunicado REDES – Amigos da Terra Uruguai, integrante da CNDAV. “A ausência de estudos e até um compromisso público assumido com uma corporação transnacional complicam o panorama. As consequências sociais e ambientais podem chegar a ser graves, sem pretender ser alarmistas”, acrescentou a organização ecologista.
A CNDAV está exigindo que se estatize a empresa Aguas de la Costa no departamento de Maldonado, que tem parte de seu pacote acionário controlado por uma companhia privada (Seinco), o que é inconstitucional.
Os movimentos e organizações sociais também exigem que sejam instaurados em todo o país os mecanismos de participação da cidadania na gestão da água, para cumprir com a reforma de 2004.
REDES – AT falou dos novos desafios que o modelo produtivo nacional gera para o cuidado da água. “As monoculturas florestais, destinadas à indústria da celulose, ocupam mais de um milhão de hectares do território nacional e comprometem as fontes de água próximas. Os plantios de árvores consomem grande quantidade de água, o que atinge negativamente outros setores produtivos, como o da produção de leite, cercados pelo florestamento. Produtores familiares de vários departamentos têm denunciado isto”, expressa a organização uruguaia.
A soja também superou o milhão de hectares no país e os agrotóxicos usados nos agronegócios em geral prejudicam as fontes de água, conforme pequenos produtores de algumas zonas. Existe preocupação em várias comunidades inclusive pelos possíveis efeitos desses venenos em sua saúde.
“O Estado não está realizando estudos para determinar as consequências das novas práticas produtivas do país sobre a saúde das populações.
Tampouco investiga os efeitos nas fontes de água”, lamentou REDES - AT
Conforme essa organização, que faz parte da federação Amigos da Terra Internacional, algumas decisões do governo uruguaio geram ainda mais dúvidas sobre o futuro da água no país. Os ecologistas estão especialmente preocupados pelas consequências do Contrato de Investimentos assinados entre Uruguai e a empresa Montes del Plata (consórcio composto pela companhia chilena Arauco e a sueco finlandesa Stora Enso), que instala uma fábrica de celulose na localidade de Punta Pereira, departamento de Colonia. O contrato prevê a possibilidade de que Montes del Plata tenha plantios florestais em um raio máximo de 200 quilômetros de Punta Pereira.
O documento diz expressamente que serão aproveitados os solos 5.02b de aptidão florestal. A Bacía do Rio Santa Lucía abastece 60 porcento da população uruguaia. Conforme um estudo de REDES – AT e o Programa Uruguai Sustentável, caso fosse resolvido florestar todos os solos 5.02b a bacia do Santa Lucía ficaria com 44,4 porcento de sua superfície sob o regime de prioridade florestal. “A possibilidade de cultivar estes solos substituindo a vegetação de pradarias por monoculturas florestais estaria comprometendo seriamente a capacidade da bacia de abastecer de água potável à área metropolitana do Uruguai”, concluiu a investigação.
REDES – AT reiterou a demanda da CNDAV para que a Universidade da República faça monitoramentos dos efeitos das monoculturas e os agrotóxicos nos recursos hídricos. Considerou necessário ainda que se informe especialmente sobre a situação dos aquíferos Guarani e Raigón. “Esses estudos devem ter muito difundidos em toda a população e ser a base de um debate sobre o presente e o futuro de nossos recursos naturais, e particularmente da água, bem essencial para a vida”, acrescentou o comunicado de imprensa da organização ecologista.
Várias organizações sociais do Uruguai estão preocupadas também pela possível implementação no país de um projeto minerador, que é visto como outra grave ameaça às fontes de água. “É hora de que o Estado empreenda todas as ações necessárias para garantir que a qualidade e quantidade das nossas águas não sejam comprometidas pelo modelo produtivo”, concluiu REDES – AT.
Foto: http://www.rel-uita.org
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