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1 de Novembro de 2011 | Entrevistas | Soberania alimentar
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Apropriação de terras e volatilidade de preços alimentares aparecem como dois aspectos de uma única e preocupante realidade que, conforme os especialistas que integram o Painel de Alto Nível do Comitê de Segurança Alimentar “não vão a acabar ’naturalmente’”, a menos que exista um claro compromisso de mudar o modelo agrícola.
Foi o que explicou Maryam Rahmanian, da organização CENESTA que integra esse Painel (HLPE, siglas em inglês) a nome do Mecanismo da Sociedade Civil em uma entrevista realizada em Roma com Rádio Mundo Real.
“A crise alimentar e a crise financeira certamente ainda não estão resolvidas, estamos no meio delas”, destacou a ativista e investigadora iraniana. Existe um vínculo direto entre ambas? “Absolutamente sim, mesmo quando esse vínculo for difícil de provar de forma convincente para todo o mundo. Com a crise financeira temos uma enorme quantidade de capital financeiro buscando lugares onde investir. E observa-se que esse capital flui para os commoditties alimentares e também crescentemente para terras. Nesta etapa da crise do capitalismo, observamos que se está voltando-se para os aspectos mais básicos: terra e alimentos”.
Para Maryam, soma-se a esta pressão a crise energética -através do estímulo aos agrocombustíveis cujos cultivos têm começado a competir com os alimentares- e a crise climática.
Em matéria de volatilidade de preços de alimentos, a relação entre o preço internacional e o que atingem os alimentos no mercado interno mostra um comportamento que requer investigação mais profunda: “mesmo os casos em que os preços internacionais aparecem estabilizados, nos mercados nacionais continuam em alta, inclusive para produtos importados. É um verdadeiro desafio conhecer a causa deste comportamento”.
Entre os aspectos que podem explicar este fenômeno, diz Maryam, está o fato de que os estoques locais de alimentos têm desaparecido. “Tradicionalmente cada povo, cada região, cada cidade e cada país contavam com um estoque, agora isso tem desaparecido”.
Desenhar políticas que tendam a recuperar esses estoques pode ser uma das linhas de ação práticas para combater a volatilidade de preços, reflete Maryam.
Apropriar para especular
Na apropriação de terras e os investimentos em agricultura também se reflete o fato de que o capital financeiro tem fluído para a compra de grandes extensões não para produzir agricultura, mas para especular ou tentar evitar a crise da bolsa.
“É neste caso onde fica mais clara a crise de um modelo de produção”, indica Maryam. De fato na reportagem da HLPE indica-se que só 20 porcento da terra que tem sido apropriada pode se demostrar que tem sido utilizada para produzir comida. O resto tem sido mera especulação.
“Não se trata somente de especulação em terra, mas também de especulação sobre o controle dos contratos que te permitam produzir no futuro. A cadeia em que a produção e a comercialização estão organizadas representa vários tipos de especulação”.
Entrevista íntegra em inglês aquí
Foto: brot-fuer-die-welt.de
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