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13 de Dezembro de 2010 | Notícias | Justiça climática e energia | COP 16
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Antes do fim da Cúpula sobre Mudança Climática das Nações Unidas (COP 16), o movimento internacional de base Via Campesina emitiu sua declaração final, com a que encerrou as mobilizações e ações que levou a cabo na cidade mexicana de Cancún para exigir justiça ambiental e respeito à Mãe Terra.
A Via Campesina havia começado suas mobilizações no dia 28 de novembro, com três caravanas que partiram de San Luis Potosí, Guadalajara e Acapulco, num esforço junto à Assembléia Nacional de Atingidos Ambientais, o Movimento de Liberação Nacional e o Sindicato Mexicano de Eletricistas. Uniram-se logo outras caravanas -uma de Chiapas, outra de Oaxaca e uma da Guatemala-, que chegaram juntas a Cancun na noite de 3 de dezembro. No dia seguinte, foi inaugurado o Fórum Global pela Vida, a Justiça Social e Ambiental.
A partir desse momento, o movimento levou adiante várias atividades, fóruns e mobilizações, marcando um momento importante no dia 7 de dezembro, onde milhares marcharam pelas ruas de Cancún até o lugar onde eram realizadas as negociações das Nações Unidas; esta marcha foi repetida em mais de 37 países, nos marco da convocatória a realizar “milhares de Cancun” que realizou o movimento camponês.
“Os atuais modelos de consumo, produção e comércio têm causado uma destruição meio-ambiental da qual os povos indígenas, camponeses e camponesas somos as principais vítimas. Portanto nossa mobilização para Cancún e em Cancún, é para dizer aos povos do mundo que precisamos uma mudança de paradigma de desenvolvimento e economia”, indica a Via Campesina em seu comunicado, e acrescenta: “Deve-se transcender o pensamento antropocêntrico. Deve-se reconstituir a cosmovisão de nossos povos, que baseia-se no pensamento holístico da relação com o cosmos, a Mãe Terra, o ar, a água e todos os seres viventes. O ser humano não é dono da natureza, mas parte de tudo o que tem vida”.
Por isso, no comunicado denuncia-se que os governos continuam indiferentes à mudança climática, debatendo sobre o negócio financeiro especulativo, a nova economia verde e a privatização dos bens comuns ao invés de sobre como solucioná-lo, ao tempo que as falsas soluções como a iniciativa REDD+ (Redução de emissões por desmatamento e degradação), os MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo), a energia nuclear e a geo-engenharia, são apresentadas como uma perigosa ameaça.
A Via Campesina também denuncia “a imposição da agricultura industrial, através da implementação de produtos transgênicos e usurpação de terras que atentam contra a soberania alimentar”, e enfatiza a exclusão tanto de camponeses como de povos originários dos debates sobre estes temas, bem como também denuncia “a expulsão de companheiros e companheiras do espaço oficial da COP 16 por sua oposição às propostas dos governos que promovem um sistema predatório que aposta na exterminação da Mãe Terra e à humanidade”.
Finalmente, o movimento critica o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial de Comércio por “facilitar a intervenção das grandes transnacionais” nos países, bem como denuncia os impactos que causam os tratados de livre comércio com os países do Norte e com a União Europeia, aos que considera “acordos comerciais que abrem mais as portas de nossos países às empresas transnacionais para que se apoderem de nossos bens naturais”.
Por outro lado, o movimento promove como verdadeira solução a soberania alimentar, chama a reconstruir a relação com a Mãe Terra que se estipula na cosmovisão dos povos originários, e exige retomar os pactos estipulados nos marco do Acordo dos Povos celebrado na cidade boliviana de Cochabamba em abril deste ano.
Em seu comunicado a Via Campesina chama a “assumir a responsabilidade coletiva com a Mãe Terra, mudando os padrões de desenvolvimento das estruturas econômicas e desaparecendo as empresas transnacionais”, ao tempo que reconhece a governos como o da Bolívia e Tuvalu, porque “têm tido a valentia de se resistir diante da imposição dos governos do Norte e das corporações transnacionais”, e faz “um chamado para que outros governos somem-se à resistência dos povos diante da crise climática”.
O movimento chama ainda a deter a contaminação e julgar os responsáveis de delitos ambientais, e pede aos movimentos e às organizações sociais que somem-se à defesa da Mãe Terra, enquanto exige que as políticas de proteção à biodiversidade, soberania alimentar, administração e administração da água “baseiam-se nas experiências e participação plena das próprias comunidades”.
Por último, a Via Campesina exige que seja realizada uma consulta mundial aos povos para decidir as políticas e as ações globais para deter a crise climática.
“Hoje!, Agora mesmo chamamos a humanidade para atuar imediatamente pela reconstituição da vida de toda a mãe natureza, percorrendo à aplicação do “cosmoviver’”, indica o movimento em seu comunicado, e acrescentou: “Por isso, desde as quatro esquinas do planeta nos levantamos para dizer: Não mais dano a nossa Mãe Terra! Não mais destruição ao planeta!. Não mais desalojamentos de nossos territórios! Não mais morte aos filhos e filhas da Mãe Terra! Não mais criminalização de nossas lutas! Não ao entendimento de Copenhague. Sim aos princípios de Cochabamba”.
Foto: Rádio Mundo Real
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