27 de septiembre de 2012 | Entrevistas | Misión Internacional de Solidaridad y DDHH | No al golpe de estado en Paraguay | Derechos humanos | Luchadores sociales en riesgo
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María Olmedo, seu irmão Luis e Dolores López são três dos 12 sem terra paraguaios que foram detidos durante o operativo policial que no dia 15 de junho desalojou cerca de 50 camponeses acampados na área “Marina Cué”, a cerca de 35 quilômetros da cidade de Curuguaty, departamento de Canindeyú. Foram assassinados 11 sem terra e seis policiais nesse dia.
Rádio Mundo Real conversou com María, Luis e Dolores na cadeia regional de Coronel Oviedo, no departamento de Caaguazú. Magui Balbuena, da Coordenadora Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras, Rurais e Indígenas (CONAMURI) nos ajudou com a tradução guarani-espanhol. Falamos também com Felipe Urbina, preso no dia 15 de junho enquanto ajudava Arnaldo Quintana (também preso em Coronel Oviedo), que tinha uma grave ferida de bala em seu estômago.
María, Luis e Dolores, os três da zona de Britez Cué, perto da área de Marina Cué, apenas superam a idade de 20 anos, e no dia 15 de junho sofreram maltrato policial. Quando o atropelo policial chegou, tentaram fugir, mas não conseguiram. Dolores é a namorada de Luis e estaba em Marina Cué visitando ele. Levava consigo seu filho de três anos, que agora está com uma de suas avós.
Luis conta que a polícia chegou a Marina Cué direto para atropelar e em duas frentes: a Rota 10 “Las Residentas” e a fazenda de propriedade brasileira “La Paraguaya”. O camponês afirma que não viu o enfrentamento, porque correu e foi pego por um policial. Foi algemado e agredido durante horas. Na camionete que o levo até Curuguaty, afirma, um policial batia em seu rosto com um revólver e outro com uma metralhadora, perguntando a ele se doía. Já na cadeia de Curuguaty apontavam para ele dizendo que iam matá-lo.
Várias versões camponesas recolhidas durante uma missão de solidariedade e direitos humanos pela zona de Curuguaty, onde participou Rádio Mundo Real no inicio de setembro, coincidiram em que os sem terra de Marina Cué tinham certa informação de que podiam receber essas terras. Isto também surgiu na conversa com Luis, María e Dolores.
Juana Evangelista Martínez é a viúva de Arnaldo Ruíz Díaz, um dos camponeses assassinados. Ficou com seis filhos pequenos e um pequena área de terra emprestada. Apenas tem podido alimentar seus filhos até agora. Seu marido ligou para ela no dia 15 de junho às 6 am para dizer que se preparasse para festejar porque lhes dariam as terras em disputa.
Alguns familiares dos camponeses mortos, e inclusive um sem terra envolvido na luta por Marina Cué afirmaram que talvez os principais dirigentes do acampamento tinham alguma informação antes do dia 15 de junho sobre um possível operativo policial, e que essa informação não foi divulgada entre todos os camponeses.
Avelino Espínola foi quem esteve desde o começo da luta por Marina Cué, em 2003. Foi assassinado no enfrentamento. Outro dos dirigentes principais era Rubén Villalba, agora prófugo. No entanto, a maioria dos camponeses consultados disseram que não sabiam se os dirigentes tinham informação de uma possível situação de risco extremo e que confiavam neles.
Felipe Urbina, dirigente político, também está preso em Coronel Oviedo. Afirma que não estava em Marina Cué, mas em uma reunião em Curuguaty. Conforme seu relato, passou pela Rota 10 e viu o jovem Arnaldo Quintana pedindo auxílio com uma grave ferida de bala no estômago. Quis socorrê-lo e ali a polícia o atacou.
Urbina contou à Rádio Mundo Real que o torturaram e ameaçaram de morte longe da zona onde estava o acampamento sem terra. Esteve internado três dias em um hospital de Curuguaty, onde continuou recebendo ameaças de policiais. O camponês, seu advogado e moradores dizem que não estava em Marina Cué e exigiam sua liberdade. No entanto, tem uma prova que o condena: danos nos olhos certificados por um médico por causa dos gases lacrimogêneos, o que o situaria no lugar dos fatos. É que me jogaram na cara com gases ao me prender na estrada para deixar uma evidência, denuncia Urbina em Coronel Oviedo, sentado ao lado de Quintana, que conseguiu salvar sua vida.
Foto: Rádio Mundo Real.
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