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16 de Julho de 2013 | Entrevistas | Criminalização do COPINH | Honduras Livre | Direitos humanos | Lutadores sociais em risco
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Nesta segunda-feira, (15 de julho) enquanto completavam-se 106 dias de resistência da comunidade lenca de Río Blanco, em Honduras, através de manifestações pacíficas de bloqueio de entrada à região de construção da barragem hidrelétrica Agua Zarca, o Exército atirou de forma indiscriminada contra os manifestantes assassinando um dos líderes da resistência, Tomás García e ferindo seriamente seu filho (foto).
Tomás, indígena lenca, fazia parte do Conselho Indígena e Auxiliar de sua comunidade e do Conselho Nacional do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH).
O lutador hondurenho foi assassinado em momentos em que junto a membros de sua comunidade rumo às instalações do projeto, sustentado pelas empresas Desa e Sinohydro, enquanto seu filho sofreu feridas de bala de alto calibre, está hospitalizado e sua vida corre sério risco, informou à Rádio Mundo Real Berta Cáceres, dirigente do COPINH antes de viajar para Río Blanco nesta segunda-feira.
Berta considerou o fato uma “reação desesperada e criminal” por parte das empresas que pretendem barrar o rio Gualcarque, o que atingiria muita as comunidades que ali vivem. Para isso, contam com o apoio do Exército hondurenho, disse Berta e assumem os gastos de viajem e manutenção de militares mobilizados pelo governo de Tegucigalpa rumo à região de Río Blanco.
Enquanto se aproximava a noite na região, o COPINH informava de novos contingentes de militares rumo à região desde Zacapa, Santa Bárbara e temia-se por novos ataques contra os civis que velavam o lutador indígena assassinado.
“A comunidade está muito indignada, temos muita dor, mas também a convicção de que devemos continuar com ânimo e com esperança”, disse Berta em contato via telefone. “À medida em que se aproximam as eleições (novembro) querem atacar o COPINH ”, explicou e indicou que imediatamente a comunidade decidiu manter a ocupação das vias de acesso à área.
Algumas horas antes dos fatos, o COPINH havia denunciado que na sexta-feira (12), veículos da empresa Desarrollo Energético Sociedad Anónima (DESA) –que junto ao consórcio de origem chinês Sinohydro leva adiante o projeto- levaram funcionários que se reuniram com reconhecidos matadores de aluguel da zona, responsáveis de ameaças diretas a vários membros do conselho indígena, dentre eles Tomás García.
Antes de iniciada a tiroteio contra os civis, quando os manifestantes não chegavam ao ponto do bloqueio, não houve nenhum tipo de diálogo por parte dos militares, diz Berta.
A própria liderança COPINH foi detida ilegalmente no mês de maio pelo qual foi submetida a um julgamento por um suposto porte ilegal de arma de fogo, que não foi provado no julgamento, sendo portanto arquivado.
A liderança destacou que, como nessa ocasião, nos novos casos de repressão contra os habitantes da comunidade Rio Blanco, urge a solidariedade internacional, exigindo às autoridades civis, militares e de ambas empresas por este assassinato.
“Sabemos que nos enfrentamos a uma estratégia de impunidade em um contexto em que estão se aprofundando este tipo de ações repressivas”, disse Berta, embora, considere que a vontade das comunidades em defesa de um território de alto valor cultural e ancestral se fortalece diante destas situações de violência estatal e privada.
De fato, o rio Gualcarque é considerado parte fundamental da espiritualidade lenca e as comunidades enfrentam os projetos empresariais como tributo à figura emblemática dessa cultura, Lempira.
“Seguimos firmes na luta, não nos escondemos, não permitimos que ficarmos presos do medo e seguir nessa batalha pela vida, pacífica mas enérgica, assim vamos continuar sem desmaiar”, disse Berta na entrevista.
Foto: Alan García, filho de Tomás, mostra as feridas feitas pelo Exército (COPINH)
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