A homenagem e a mística inicial foram realizadas na praça managuense da Revolução, em frente ao ex-Palácio Nacional –sede da ditadura de Somoza hoje transformada em Casa da Cultura- onde funcionários comissões regionais e temáticas fazendo um balanço da agenda política do campesinato em escala continental.

São mais de 300 os delegados e delegadas presentes na capital nicaraguense, que neste domingo se mobilizarão em solidariedade com a situação pela que atravessam comunidades e organizações em Honduras, Guatemala, Paraguai e Colômbia, onde a disputa pela terra tem gerado processos de desestabilização, violência sistemática do Estado e golpes institucionais auspiciados por latifundistas e empresas transnacionais.

Representando a Colômbia nesta Assembleia Continental, que também comemora os 20 anos de processo fundacional da CLOC, Eberto Díaz, dirigente da Fensuagro, federação camponesa colombiana que faz parte desta articulação e da Via Campesina Internacional.

Em entrevista com Rádio Mundo Real, Eberto descreveu a situação atual de seu país, que está na expectativa pelos diálogos de paz entre a insurgência armada e o Estado, indicando que o movimento social insiste em deter “a fogueira da guerra”, que além dos danos humanos e de violação de direitos humanos, são vertidos imensos fundos públicos que são negados para outros setores, como no caso da economia camponesa.

Os movimentos sociais indicam a necessidade de que a “paz” não somente signifique ausência de conflito armado mas também a existência de um caminho político para a demanda social, bem como a redistribuição da riqueza e os recursos produtivos.

Embora para a FAO na Colômbia não existe “usurpação de terras” em seu sentido mais técnico, Eberto é contundente ao indicar que 62 porcento do território está em poder de apenas 0,4 porcento dos proprietários. O número de famílias camponesas que não possuem terra na Colômbia é estimada por Eberto em um milhão e meio.
Este fenômeno estrutural tem sido aprofundado pela chegada ao país de transnacionais mineradoras e de produção de agrocombustíveis de palma africana ou cana de açúcar, o que tem sido sustentado com políticas públicas de governos colombianos passados e recentes.

Eberto realiza um balanço das duas décadas de existência da CLOC-Via Campesina como articulação continental, lembrando que no momento de sua criação muitos dos países estavam em plena década de implementação do neoliberalismo e saindo de processos autoritários, muitas vezes sob ditaduras cívico-militares.

“Já América latina não quer continuar sendo o fundo de quintal dos Estados Unidos e nele a luta da CLOC tem sido e é fundamental”, destacou ao indicar a existência de processos concretos de recuperação democrática no continente, desvinculando-se de diretrizes de organismos multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial ou Fundo Monetário Internacional.

Dentre as comissões de trabalho que se distribuirão os debates na I Assembleia estão: Soberania Alimentar, agricultura camponesa, bens naturais, coca, “Campanha de sementes” e “Campanha contra os agrotóxicos”; Reforma Agrária, Terra, território; Direitos Humanos, campanha da não violência contra as mulheres, Campanha pela liberação de presos políticos; Formação e educação; Comunicação; Migrações e assalariados agrícolas; Povos Indígenas e afrodescendentes.